A importância de uma indústria de semicondutores
A indústria de semicondutores produz componentes básicos para todos os dispositivos eletrônicos modernos. Eles são utilizados para construir dispositivos como chips, memórias, sensores, dispositivos de comunicação e muito mais. Esses dispositivos são aplicados em computação, comunicação, inteligência artificial, tecnologia militar, saúde, agricultura, indústrias, veículos, pesquisa científica e dispositivos de uso diário.
A estimativa é que o setor chegue a faturar mais de um trilhão de dólares até 2030.

A expectativa para a próxima década é de um aumento significativo da dependência global dos semicondutores. Diversos fatores contribuem para essa previsão:
Crescimento da digitalização:
A digitalização impacta todos os setores da economia, desde a indústria e o agronegócio até a saúde e a educação.
Essa transformação digital exige cada vez mais chips e semicondutores em diversos dispositivos, como smartphones, carros, eletrodomésticos, máquinas industriais e equipamentos médicos.
Avanço da inteligência artificial:
A inteligência artificial (IA) está se tornando cada vez mais presente em nossas vidas, desde assistentes virtuais até carros autônomos.
A IA exige um grande poder de processamento, o que impulsiona a demanda por semicondutores mais potentes e eficientes.
Internet das Coisas (IoT):
A IoT conecta bilhões de dispositivos à internet, criando um mundo cada vez mais interligado.
Cada dispositivo conectado à IoT necessita de chips e semicondutores para funcionar.
Desenvolvimento de tecnologias emergentes:
Tecnologias como a 5G, a computação em nuvem e a realidade virtual/aumentada também impulsionam a demanda por semicondutores.
Geopolítica e diversificação da cadeia de suprimentos:
A pandemia de COVID-19 e as tensões geopolíticas, causadas por guerras comerciais e conflitos armados, evidenciaram a fragilidade da cadeia de suprimentos global de semicondutores.
Países e empresas estão buscando diversificar a produção e reduzir a dependência de um único fornecedor, o que pode levar a investimentos em novas fábricas e tecnologias de produção.
Nesse contexto abre-se uma nova oportunidade para o Brasil se inserir, em algum ponto, nessa cadeia de suprimentos.
Como funciona a cadeia mundial de semicondutores e quais são os principais atores?
Embora a indústria de semicondutores seja frequentemente vista como um setor único, na verdade é composta por diversos setores interligados, cada um com seus próprios desafios e oportunidades. A McKinsey, em seu artigo “Semiconductor Design and Manufacturing: Achieving Leading-Edge Capabilities”, destaca que nenhuma região do mundo opera em todos os setores da cadeia de semicondutores.
Cada região se especializou em diferentes partes da cadeia:
Ásia-Pacífico: Líder em manufatura, com Taiwan e Coreia do Sul como principais players na produção de chips de memória e lógica, respectivamente.
América do Norte: Centro de design e pesquisa, com os Estados Unidos liderando em inovações tecnológicas e patentes.
Europa: Forte em pesquisa e desenvolvimento, com foco em tecnologias específicas como semicondutores de potência e de radiofrequência.

E o Brasil? Aparece onde nesse gráfico?
Estamos na segunda linha, Materials (nonwafer). O país detém as maiores reservas de quartzo do mundo, matéria-prima essencial para a produção de silício de alta pureza, componente fundamental dos wafers, base para a construção de chips.
No entanto, a participação brasileira na cadeia de valor dos semicondutores é limitada e marcada pela falta de agregação tecnológica. O Brasil atua principalmente como exportador de quartzo bruto, sem beneficiá-lo e transformá-lo em produtos de maior valor, como o silício de alta pureza. Essa dependência de outros países para o processamento do quartzo limita significativamente a participação brasileira na indústria de semicondutores e impede o país de capturar os benefícios econômicos e tecnológicos dessa área estratégica. (https://antigo.mme.gov.br/documents/36108/448620/P27_RT37_Perfil_do_Quartzo.pdf)
Qual é a perda direta do Brasil nesse mercado?
Só nos últimos 10 anos o Brasil teve um déficit de 328 bilhões de dólares no setor de eletroeletrônicos, mas além da perda financeira existem outros riscos associados a escolha de não dominar essa tecnologia.

O impacto do déficit da balança comercial no Brasil para o setor de eletroeletrônicos é multifacetado e prejudicial, afetando diversos aspectos da economia e da sociedade brasileira.
Aumento dos preços dos produtos:
O déficit leva à necessidade de importar mais produtos eletroeletrônicos, elevando a demanda por moeda estrangeira e pressionando o câmbio.
Isso encarece as importações, impactando diretamente no preço final dos produtos para os consumidores brasileiros.
A alta dos preços torna os produtos eletroeletrônicos menos acessíveis para a população, impactando principalmente as classes mais baixas.
Fuga de divisas e perda de competitividade:
O déficit na balança comercial significa que o Brasil envia mais recursos para outros países do que recebe.
Isso contribui para a fuga de divisas e limita a capacidade do país de investir em setores estratégicos.
Riscos à segurança nacional:
A dependência de importações para produtos essenciais como eletroeletrônicos pode ser um risco à segurança nacional.
Em caso de crises internacionais ou conflitos, o fornecimento desses produtos pode ser comprometido, impactando o funcionamento de serviços essenciais como comunicação, energia e transporte.
A inserção de backdoors ou malwares durante a produção ou a manipulação desses dispositivos pode comprometer a confidencialidade de dados e a funcionalidade dos sistemas.
A utilização de dispositivos semicondutores sem rastreabilidade de produção pode levar à perda de controle sobre dados confidenciais e estratégicos. Agentes hostis podem ter acesso a informações sensíveis coletadas pelos sistemas, o que pode ser usado para fins de espionagem ou para prejudicar os interesses nacionais.

Dependência em semicondutores traz dependência tecnológica de tudo aquilo que depende de semicondutores.
Por que está ocorrendo uma corrida para fabricação de semicondutores?
A corrida pela fabricação de semicondutores é impulsionada por diversos fatores interligados que convergem para a importância estratégica e econômica desses componentes:
Demanda crescente e ubiquidade:
Os semicondutores são a base da tecnologia moderna, presentes em smartphones, computadores, carros, eletrodomésticos, sistemas de defesa e até mesmo em infraestrutura crítica.
A crescente demanda por dispositivos eletrônicos e a digitalização de diversos setores da economia impulsionam a necessidade de mais semicondutores.
Estima-se que a indústria global de semicondutores alcance US$ 1 trilhão até 2030, evidenciando o enorme potencial de crescimento do mercado.
Dependência e segurança nacional:
A produção de chips é altamente concentrada em países como Taiwan, Coreia do Sul e Estados Unidos.
Essa dependência gera vulnerabilidades geopolíticas e riscos à segurança nacional, como a escassez de chips durante a pandemia de COVID-19 e a guerra comercial entre EUA e China.

A produção nacional de chips garante maior autonomia e segurança, reduzindo a dependência de outros países e protegendo infraestruturas críticas.
Inovação e competitividade:
Os semicondutores são considerados a chave para a inovação tecnológica em diversos setores, como inteligência artificial, internet das coisas e carros autônomos.
O domínio das técnicas de produção de semicondutores garante acesso às tecnologias mais recentes e competitividade no mercado global.
Investir em pesquisa e desenvolvimento de semicondutores é crucial para o desenvolvimento de novas tecnologias e para manter a competitividade das empresas e países.
Guerra comercial e geopolítica:
A disputa pelo controle da produção de semicondutores se intensificou nos últimos anos, com a guerra comercial entre EUA e China e a crescente rivalidade tecnológica entre as potências.
Os países investem pesadamente em suas indústrias de semicondutores para garantir sua posição no cenário geopolítico e tecnológico global.
A produção nacional de chips é vista como uma ferramenta estratégica para proteger os interesses nacionais e reduzir a dependência de rivais geopolíticos.
Geração de empregos e desenvolvimento econômico:
A indústria de semicondutores é um setor de alta tecnologia que gera empregos qualificados e bem remunerados. Para cada emprego direto na indústria de semicondutores 6 empregos indiretos são criados. (https://committees.parliament.uk/publications/31752/documents/178214/default/)
O investimento na produção nacional de chips impulsiona o desenvolvimento da indústria local, atrai investimentos e contribui para o crescimento da economia.
A criação de um cluster de empresas e centros de pesquisa em torno da indústria de semicondutores pode gerar um efeito multiplicador na economia, com benefícios para diversos setores.
Dados da SIA (Semiconductor Industry Association) indicam que o retorno do investimento público em semicondutores para o PIB é de aproximadamente 16,5 para cada dólar investido.

(https://www.semiconductors.org/sparking-innovation/)
O avanço da indústria de semicondutores no Brasil não é apenas uma questão econômica, mas uma preocupação central em relação à soberania nacional. Com a dependência de outros países para o fornecimento de chips, o país enfrenta riscos significativos de interrupções na cadeia de suprimentos, flutuações de preços e possíveis embargos que podem afetar diretamente setores estratégicos como defesa, saúde e telecomunicações. Investir na produção interna de semicondutores emerge como uma medida essencial para garantir acesso contínuo a essa tecnologia crucial, garantindo a independência tecnológica e a segurança do Brasil em um cenário global cada vez mais competitivo e volátil.
Além disso, a indústria de semicondutores pode proporcionar uma gama de vantagens econômicas substanciais para o Brasil. Como um setor altamente dinâmico e lucrativo, seu desenvolvimento potencialmente geraria milhares de empregos qualificados, impulsionando a formação de uma força de trabalho especializada e capacitada. O crescimento desse setor também traria impactos positivos em cascata, estimulando o desenvolvimento de outras áreas da economia brasileira, desde pesquisa e desenvolvimento até logística e distribuição. Dessa forma, investir na indústria de semicondutores não apenas reforça a posição econômica do Brasil, mas também contribui para um crescimento sustentável e diversificado, preparando-o para uma competição mais acirrada no cenário internacional.
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